Este post, na verdade,
é uma adaptação de um estudo acadêmico que realizei na faculdade. Ele foi
subdividido em sete partes e reestruturado para uma interpretação mais
simplificada. Alguns conceitos apresentados são desenvolvidos nos posts
seguintes. Espero que gostem!
“Os Alquimistas estão chegando..."
Jorge Ben
Introdução
“Os Alquimistas estão chegando..."
Jorge Ben
Introdução
O homem que volta ao
mesmo rio, nem o rio é o mesmo rio, nem o homem é o mesmo homem. Esta
suma de Heráclito define bem a constante transformação do indivíduo e denota
como a transformação é um aspecto presente, tanto no homem quanto na natureza.
As coisas fluem, mudam, se transformam e transmutam.
Heráclito de Éfeso |
Assim é a consciência,
um sistema em constante transformação, porém, com que finalidade?
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A vida humana é calcada por ciclos. A
primeira infância, segunda infância, puberdade, adolescência, juventude e vida
madura são as etapas comumente conhecidas no desenvolvimento humano.
Simbolicamente, cada ciclo pode ser interpretado como uma nova vida, e o fim
dos ciclos como uma morte. A vida, morte e ressureição, são então, etapas
arquetípicas do desenvolvimento psico-espiritual, no qual, para atingir um novo
nível de consciência, é necessário realizar sacrifícios e abdicar dos antigos
paradigmas da consciência, se integrar, mudar e melhorar.
Eram estes sacrifícios que permeavam a
vida dos antigos (e dos contemporâneos) alquimistas, que buscavam, em seus
laboratórios, a obtenção da pedra filosofal, do elixir da vida.
Ao longo de sua prática clínica, o
psicólogo suíço Carl Gustav Jung percebeu uma correlação entre sonhos de seus
pacientes com figuras alquímicas, e a partir daí, traçou diversos paralelos
entre as metáforas alquímicas com o processo que denominou individuação (JUNG,
1999).
Foi averiguado os paralelos entre a
opus alquímica e o processo de individuação, investigando o significado desta imagem rica em simbolismos do Ourobóros.
Através do método de amplificação e de levantamentos bibliográficos, foram
analisadas obras filosóficas e acadêmicas que explicitavam a simbologia desta
imagem arquetípica, suas correspondências dentro da simbologia alquímica e as
respectivas analogias com o processo de individuação descrito por C. G. Jung.
Ourobóros em antigo livro de Alquimia |
Para Chaise e Viana (2011), o método de
amplificação foi introduzido em 1912 na psicologia por Carl Gustav Jung em seu
livro Símbolos da Transformação (JUNG, 1986), denotando a ruptura entre Jung e
a psicanálise, cujo objetivo era “libertar a psicologia médica do viés
subjetivo e personalístico que caracterizava sua perspectiva (…) e tornar
possível à compreensão do inconsciente como uma psique coletiva e
objetiva” (CHAISE E VIANA apud JUNG, 2011).
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Ressaltam ainda que a amplificação
promove associações diretas da consciência frente a uma imagem, conteúdo ou
símbolo explorado, cujo nome é circumbulação, ou seja, um movimento circular em
torno de um ponto, o próprio método é o uma manifestação ourobórica. “A
amplificação consiste simplesmente em estabelecer paralelos” (JUNG, 1935).
Estende-se ao ponto de considerar
aspectos coletivos através de experiências individuais, recorrendo a fontes de
cunho cultural, histórico, mitos e filosóficos, afim de “ampliar o conteúdo
metafórico do simbolismo” (JUNG, 1935). Os símbolos como manifestações
individuais são retirados deste contexto através de imagens arquetípicas,
conceito melhor elaborado nos posts seguintes, mas que se resumem como a
manifestação do arquétipo na psique, não o representando completamente, mas
sugerindo seu potencial.
Portanto, a amplificação é executada em
três fases distintas: a primeira seria o contato com o símbolo e as observações
experienciais do analisado; a segunda é a etapa de amplificação coletiva, onde
se pega um símbolo específico e o associa com outras imagens arquetípicas, e
por isso pode ser denominada de objetividade da imagem; a terceira e última é o
retorno ao subjetivo com o auxilio das analogias universais, em outras
palavras, o símbolo – primordialmente individual – manifestado, passa por uma
variedade de possibilidades significativas através da associação com a
coletividade, após essa etapa, ele necessita do indivíduo, que utiliza como
parâmetro o reconhecimento afetivo dentro dos aspectos coletivos para dar
sentido ao símbolo.
Entende-se que “qualquer estudo
simbólico leva em conta duas vertentes, a individual e a coletiva” (JUNG,
1999). Sendo a primeira carregada de impressões pessoais do indivíduo e a
segunda o repertório de arquétipos da humanidade.
De acordo com RAMOS (1990), no passado, o método utilizado na
interpretação dos processos e dinâmicas mente-corpo eram feitos de forma
reducionista e causal, derivada de uma visão cartesiana e newtoniana, e que,
com o passar do tempo, frente a fenômenos como a globalização, a inter-relação
de fatores, surgiu a necessidade do desenvolvimento de uma visão holística e
simbólica para compreender os fenômenos da saúde.
Neste sentido, a presente reflexão,
fundamenta sua base metodológica como forma de ampliar a percepção dos
pesquisadores e o estudo comparativo de sociedades e religiões para uma
compreensão mais integral da saúde. É percebido que, a base do adoecimento,
para inúmeras religiões, era a saída do indivíduo de seu eixo divino (a
etimologia da palavra religião é religar, ou seja, estabelecer
uma [re]conexão com o divino), e por isso, a enfermidade, nesse contexto
religioso, é encarada como uma oportunidade de desfazer esta desarmonia
interna.
A compreensão dos aspectos religiosos e
simbólicos na psique se mostram, portanto, de grande importância, uma vez que
possibilitam o melhor entendimento da subjetividade humana, permitindo, por
exemplo, melhorias na saúde do indivíduos.
Denise Ramos (1999) nos introduz aos
cientistas precursores do símbolo como um organizador e centralizador da
psique: C. G. Jung e G. Groddeck, sendo este último o defensor da doença como
um sinalizador da psique de que alguns aspectos internos precisam ser
expressos, ou então, expressados de uma nova forma. É de interesse a
percepção junguiana do processo, que percebe a doença como uma manifestação do
processo de individuação.
A autora ainda define como um dos
principais conceitos que orientam essa afirmação, a intermediação de um
terceiro fator na relação psique-corpo: o símbolo.
Diagrama de símbolos alquímicos |
O equilíbrio dos opostos seria uma
finalidade natural da psique, e essa integração ocorre quando se percebe
diferentes níveis de corpos, físico, onírico, sutil, e a manifestação dos
arquétipos que ocorre através destes. Quanto maior a capacidade do ego em organizar
tais estruturas, mais repertório este poderá desenvolver para enriquecer a
troca com o self, e por conseguinte, a manifestação do corpo será mais
harmoniosa e menos ‘doente’.
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O símbolo estaria carregado com os
significados arquetípicos de uma forma apresentável para o ego, e seria então o
terceiro fator da relação psique-corpo, um intermediador que facilitaria o
equilíbrio e manifestação da individualidade, possibilitando uma vida menos
sintomática. Uma vez que a psique tem dificuldade de perceber e atuar com
diferentes polaridades, a doença de manifesta como uma forma de chamar a
atenção para a unilateralidade da psique, e convidá-la a integrar outros
aspectos.
Será, portanto, a ferramenta principal
da psique para se manifestar e se transformar, e que, as religiões são
carregadas destes símbolos que ajudam o homem a se religar com o divino, ou com
seu próprio self, uma forma de vir-a-ser mais natural e fluída. Toda
manifestação de doenças exigiria uma compreensão e investigação simbólica, que
facilitaria a dissolução da mesma.
Em síntese, considera-se que o
paradigma social de unilateralidade, manifestado entre outras esferas, na
psique, produz adoecimentos nos indivíduos, em níveis mentais e físicos.
Através do método de amplificação, que
consiste ressaltar as impressões individuais acerca de um símbolo, em seguida
associá-lo com outras imagens arquetípicas e por fim resignificá-lo a partir
dos vieses individuais e coletivos será analisado o símbolo arquetípico do
Ourobóros e suas correlações com os processos alquímicos e a o conceito de
individuação de Jung, permitindo uma maior compreensão do processo de
individuação e a potencialidade da alquimia como forma de integrar a psique.
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