“Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda do ser.
Tudo morre, tudo refloresce, eternamente transcorre o ano do ser. Tudo se
desfaz, tudo é refeito; eternamente constrói-se a mesma casa do ser. Tudo se
repara, tudo volta a se encontrar; eternamente fiel a si mesmo permanece o anel
do ser. Em cada instante começa o ser; em torno de todo o “aqui” rola a bola “acolá”.
O meio está em toda parte. Curvo é o caminho da eternidade.” Nietzsche
Alquimia
No
post anterior, vimos que, o arquétipo de Hermes, juntamente com o simbolismo do
caduceu, serve como organizador e centralizador da psique, atuando no “caos
primordial”, estruturando-o e elevando seu potencial. Este caos primordial é análogo
ao conceito de prima matéria dos alquimistas. Ambos os conceitos se apresentam
como uma fonte de energia desordenada, cuja harmonização permite a obtenção de
um potencial incalculável.
Nasce como uma ciência natural que busca a
compreensão da própria natureza a partir de uma especulação filosófica, como se
pode ver já na filosofia pré-socrática no século VI a C. É dela que nasce o
conceito de prima matéria a partir da crença de que o mundo tinha origem em uma
única substância que era subdividida nos quatro elementos terra, ar, fogo e
água, os quais, segundo diferentes recomposições faziam surgir todos os objetos
físicos existentes no universo. Esta idéia, a prima matéria, teve sua evolução
chegando com Aristóteles a ser considerada como pura potencialidade, que em
seguida adquire forma, quando é atualizada na realidade. (SANTOS, 2013)
Para
Jung (2008), a manipulação da prima matéria, correspondente aos aspectos
inconscientes dissociados. O alquimista tem que realizar a Opus Alquimica, que corresponde ao processo de individuação, transformando
seus conteúdos internos e os trazendo a luz da consciência. Esse processo
acontece através de três (podem ser quatro) momentos alquímicos e psíquicos: nigredo, albedo,
rubedo. Vale a pena frisar que as metáfora alquímicas compreendem um vasto
simbolismo, que varia entre os alquimistas e pesquisadores, porém todos
resultam no mesmo objetivo: a obtenção da pedra filosofal.
"Nigredo, Albedo e Rubedo" de Thomas Norton em 'Ordinal of Alchemy', 1477 |
Dentro
destes momentos, pode-se dividir a Opus em diferentes estágios, que variam
dentro do arcabouço alquímico, mas que neste trabalho, será utilizado as
definições de Hauck (1999), podendo ser resumidas em sete estágios de
transformação: calcinação, dissolução, separação, conjunção, fermentação,
destilação e coagulação.
"Azoth" de Basil Valentine |
Esta
imagem mandálica é um clássico da alquimia medieval, ela foi primeiramente
publicada em 1959 pelo alquimista alemão Basil Valentine, e representa o
conceito de Azoth:
“Azoth
era considerado como um remédio universal, ou solvente universal utilizado na
alquimia. Seu símbolo era o caduceu; o termo, que foi originalmente um nome
para uma fórmula oculta necessária para os alquimistas parecida com a pedra
filosofal, se tornou uma palavra poética para o elemento mercúrio, o nome é proveniente
do Latim Medieval, uma alteração de “azoc”, sendo originalmente derivado do
árabe “al-zā'būq”, que significa “o mercúrio”.” [tradução livre] http://en.wikipedia.org/wiki/Azoth
Esta
imagem irá nos guiar frente ao simbolismo utilizado na metáfora alquímica. No
centro da imagem temos o homem, alquimista. A sua direita, um rei, princípio
masculino, solar, a sua esquerda uma rainha, princípio feminino, lunar. A
dicotomia já nos é evidente, sugerindo que a integração destes aspectos seriam
necessários para atingir a Opus.
Podemos
notar a presença dos quatro elementos, como manifestação quaternária do todo,
associados à tipologia junguiana. Vemos na imagem, o pé direito do homem na
terra, seu pé esquerdo na água, sua mão direta segurando uma tocha, associada
ao fogo, e sua mão esquerda segurando uma pena, associada ao elemento ar. Há
também os triângulos adjacentes a roda, representando a manifestação trina do
corpo, alma e espírito.
Na
parte superior da figura, é possível ver uma estranha figura alada, que pode
ser associada com o disco solar egípcio ou o topo do caduceu de Hermes
(Mercúrio), analisado anteriormente. Exstem uma série de simbolismos na imagem, como por exemplo o leão sob o rei, a salamandra em chamas e os pássaros da roda, porém seria necessário um outro post apenas para interpretá-los.
Por
fim, temos a circular dos raios, associados com diferentes cores, que representam
os estágios alquímicos. Estes estágios serão nosso foco daqui pra frente.
O
primeiro raio está associado à calcinação, ou calcinato, intrínseca ao elemento
fogo. Para Hauck, esta etapa está psicologicamente associada a morte do ego e
destruição dos mecanismos de defesa, a extinção do interesse no mundo material,
e as respectivas ilusões associadas a este. Inicia-se o processo de
enegrecimento, podemos citar como ilustração desta etapa, "escuro e nebuloso é o
início de todas as coisas, mas não
o seu fim", frase de autor desconhecido.
"Calcinato Angelus" de Suanne Iles |
Para
Masan (2009), esta operação é realizada na Sombra, onde permanecem os desejos
instintivos e não integrados. O fogo é está ligado com a frustração dos
desejos, aspecto natural do processo de desenvolvimento associado ao Si-mesmo.
“Os
aspectos do ego identificados com as energias transpessoais da psique (Self ou
mesmo, o fogo Divino) e utilizados para fins pessoais, sejam de poder ou de
prazer, serão calcinados. Quanto maior a dicotomia entre bem e mal, certo e
errado, ou seja, quanto maior a polarização desses aspectos neuróticos, mais
longa será a calcinação desses elementos, até que o fogo da própria culpa
esvazia a balança do julgamento por essa imagem punitiva e compensatória,
representada pela ira divina, enquanto imagem arquetípica constelada no
psiquismo” (MASSAN, 2009, 26).
O
segundo raio está associado com a etapa de dissolução, ou solutio, representada
pelo elemento água. Psicologicamente dizendo, está atrelada com a quebra das
estruturas artificiais da psique, através da imersão no inconsciente, ou das
partes irracionais e rejeitadas. O elemento água como uma abertura das
comportas, e inundação de energias pessoais antes cristalizadas, dissolução de
aspectos fixos da personalidade.
Trecho do filme "Elena" de Petra Costa, 2013 |
O
terceiro raio diz respeito à separação, ou separatio. É o momento de captar
tudo aquilo que sobrou das etapas anteriores e selecionar. É recuperar a
energia congelada dos hábitos e pensamentos cristalizados (pré-conceitos,
crenças, fobias). Refere-se à essência e energia separada das amarras da
matéria. Esta psicologicamente associada à escolha dos aspectos dissolvidos
anteriormente, desapegando daquilo que não mais apresenta valor psíquico,
explicitando a essência e valores espirituais, portanto, associado ao elemento
ar.
"Artodyssey" de Tomasz Alen Kopera |
“Surge
aí à necessidade de dissecar esses conteúdos do inconsciente pessoal e coletivo
e realizar a escolha, a separatio, trazendo a consciência, através do ato de
julgar, uma vinculação com o Self. Isso requer um poder para arcar com o ônus
dessa escolha, uma desvinculação da necessidade de atender aos critérios do
outro, mas sim de ser fiel àquilo para o que aponta o Si-mesmo, da mesma forma
como não se pode servir a dois senhores, só que sem o domínio neurótico da
unilateridade” (MASAN, 2009, 25).
A
conjunção, ou coniunctio, é análoga ao quarto raio da figura. Conjunção é a
grande guinada do opus alquímico. Notemos que na figura, através do movimento
circular, existe o deslocamento das forças da alma (na direita), para o
espírito (na esquerda). Em nível pessoal, a conjunção é o fortalecimento do
nosso verdadeiro Self, a união dos aspectos masculinos e femininos de nossa
personalidade em um novo sistema psíquico. Esta etapa corresponde à ‘pequena
pedra’, ou o primeiro esboço do que seria a pedra filosofal atingida no final da
operação.
“Conjunção
pode ser vista com a criação de um self superior e a conquista do que Carl Jung
nomeou de individuação, no qual o self fragmentado é reunido à um todo
original. A criação desta pessoa completa e harmoniosa significa que atingimos
nosso máximo no plano terrestre”. (HACUK, 1999, 162)
Associada
então com o elemento terra, a conjunção pode ser divida em duas sub-etapas,
segundo Masan: coniunctio inferior e superior. Na primeira, a união dos opostos
separados de forma imperfeita, resulta em algo que deverá ser submetido a novos
procedimentos.
Masan
define que a coniunctio inferior acontecerá sempre que o ego identificar
aspectos inconscientes, como a sombra, anima, ou mesmo o Si-mesmo (Self),
através de uma perspectiva introvertida ou coletiva. Essa identificação deve
ser ‘purificada’, ou seja, eliminada, redimida, para dar continuidade ao processo
de individuação. A coniunctio superior representa a conjunção mor dos aspectos
previamente impossíveis de serem integrados. Após passar pelos estágios
anteriores da Opus, a prima matéria pode finalmente ter seus opostos
complementados.
Andrógino, representando a natureza dual. "Rosarium Philosophorum", Séc XVI |
“Assim
como na alquimia, a psique, dentro do processo analítico, vai transformando-se,
ora dispondo-se num lado e ora de outro, no sentido das suas polaridades, até
que lhe seja capaz a absorção de uma terceira figura, gradativa e construída,
surgida de dentro da sua própria alma que lhe traduz essa expressão de
convivência com o dual. A dissolução do conflito, gerado pelas dicotomias
neuróticas, concebe o cenário onde essa pedra, em cujo seio se fixa o espírito,
se manifesta. [...] O casamento Divino, que somente existirá se ali houver o
Amor, sua causa e seu efeito. Enquanto na coniunctio inferior o amor é
concupiscente, aqui, na coniunctio superior, esse amor é transpessoal.
Revela-se no mundo como o altruísmo em seu sentido extrovertido e na psique,
como a conexão com o Si-mesmo, gerando a unidade” (MASSAN, 2009, 34).
Masan apresenta o Amor como uma das chaves
para a integração psicológica dos opostos. Seria insensato pensar em amor se
associá-lo com o coração. A simbologia do coração é estudada no livro “A Psique
do Coração”, de Denise Ramos. A autora apresenta mitos e imagens de
culturas americanas que tinham como centro o coração, sendo ele, em quase todas
as histórias um ícone do sagrado ou oferecido ao sagrado.
"Heart Chakra" de Ormus Oils |
No
capítulo “Elegias Para Acalmar o Coração”, é somado às ideias de rezas para
‘abrir’ o coração e permitir o esvaziamento do sofrimento com o preenchimento
de Deus. No capítulo “O Coração em Julgamento” é recapitulado toda a simbologia
do coração no antigo Egito, como este sendo um exemplar da alma do indivíduo.
Ainda nesse mito egípcio, ao morrer, o coração
era pesado numa balança, onde na contraparte ficava a pena de Maat. Neste
julgamento especial, se o coração fosse mais pesado que a pena, ou seja,
estivesse carregado das impurezas do ego, não era permitido ao falecido
integrar-se a completude.
Coração e pena na balança em hieróglifo egípcio |
No
sub-capítulo “O Lugar Secreto” é destacado o valor simbólico do coração na
tradição hindu, e como o coração está associado nestas culturas como o ‘lugar
da consciência”, sendo o Self em si, o lugar que o homem emana a si mesmo, um
guia de luz.
Ainda
segundo a autora, Anãhata é a representação do chakra cardíaco no Tantra Yoga,
que une os chakras superiores com os inferiores, o Tantra Yoga
tem como objetivo alinhar e equilibrar as polaridades masculinas e femininas.
Tal equilíbrio acontece no coração, e quando acontece, o praticante da técnica
consegue ouvir o som ‘hum’ (ॐ), do vazio, que emana por todo o tempo e espaço.
Essas informações aparecem no sub-capítulo “O Lugar do Som Universal”. Uma
frase que pode exemplificar o amor como via de integração das polaridades é a
de Nietzsche: “Aquilo que se faz por amor está sempre
além do bem e do mal”.
Hauck
(1999) sincretiza o processo alquímico da conjunção da seguinte forma: “Psicologicamente, Conjunção é usar a energia sexual
dos corpos para transformação pessoal. Conjunção se ocupa no corpo no nível do
coração” (HAUCK, 1999,220).
A próxima figura, é uma foto tirada no dia
06/06/2013 no Elevado Presidente Costa e Silva, São Paulo, conhecido também
como “Minhocão”:
"Mais amor por favor" (ygormarotta.com/mais-amor-por-favor) |
É
possível perceber inúmeras analogias com os temas tratados neste trabalho. A
expressão artística urbana expressando a angústia de uma sociedade doente,
cindida. Amor e Ourobóros como resoluções arquetípicas coletivas. Apesar de
toda a fertilidade do tema social em questão, voltemos a descrição das etapas
alquímicas.
Podemos
perceber, portanto, que apesar de todo o processo alquímico estar intimamente
ligado ao processo de individuação, a etapa de Conjunção é a que representa o
ápice do processo, que é a integração dos aspectos complementares.
A
quinta etapa do processo alquímico descrito por Hauck, observado na imagem é a
fermentação. É a introdução de uma nova perspectiva de vida, resultado da etapa
anterior – Conjunção – que é a ascensão para um novo estado de consciência, a
transição para um estado mental elevado. Nesta etapa, existe a transição da
nigredo para a leukosis, resultando no aparecimento da cauda pavonis, metáfora
para imaginação ativa e ‘coloração da vida’, alguns autores definem esse amarelamento
(leukosis) e o aparecimento da “cauda pavonis” como uma quarta etapa, entre o
nigredo e albedo, enquanto outros, definem apenas como um aspecto transitório
entre estas duas etapas. Representa psicologicamente a transição da psique para
um estado mais conectado com o espírito, ou na nomenclatura junguiana, Si-mesmo
(Self).
O
penúltimo raio é análogo à etapa de destilação, ou destilatio. Neste estágio a
metáfora que se apresenta é o aumento da pureza, associado com a cor branca, ou
albedo. Psicologicamente, representa o esforço para que as impurezas do ego e
do id não sejam incorporadas no último estágio. Representa a eliminação dos
sentimentalismos e emoções, ou ainda melhor, das paixões egoístas e infantis,
aspectos que na manifestação do verdadeiro Self, não são pertinentes, uma vez
que se procura um estado pleno de espiritualidade.
Gravura representando a destilação, capa do livro "O Museu Hermético" de Alexander Robb |
"Seus pensamentos e sentimentos são os
sentimentos e pensamentos do Universo inteiro”, Esta declaração descreve o
processo de destilação, onde [o alquimista] se tornou muito mais interessado no
bem maior do que apenas em seu próprio. É a fase de transformação onde estamos
espiritualmente e emocionalmente maduros o suficiente para fundir-nos com o inconsciente
coletivo sem sermos devastados pelo o que encontramos lá. A razão pela qual nós
podemos manter o nosso equilíbrio, depois de ter chegado à fase de destilação é
que o ego não nos controla e, portanto, podemos apreciar os mistérios do
coletivo - e pessoal - material da sombra, sem a intromissão do ego. Destilação
traz o criativo fora de nós. Ela incentiva tudo o que somos se manifestar em
formas equilibradas e serenamente poderosas. Ele anuncia a entrada da
influência das forças superiores e do equilíbrio dessas forças com os
inferiores, que fornecem firmeza, tão crucial para a totalidade” (SHANDERÁ,
2002).
O
sétimo e último estágio é chamado de coagulação, ou coagulatio. Representa a
ressurreição do espírito, materializado no corpo.
“A Coagulatio é uma operação que expressa,
pelas suas imagens, o processo de formação do ego e sua ligação com os aspectos
da vida, as forças ctônicas, através da vivência da carnalidade no seu sentido
mais amplo, construindo, pelas experiências, a terra onde se lastreia o ego em
seu caminhar e, logicamente, configurando, por essas mesmas vivências, a
relação do eixo Ego-Self” (MASAN, 2009, 34)
É
a representação da pedra filosofal, ou Grande Pedra, antes anunciada pela
coniunctio. O alquimista adentra o estágio de rubedo, e pode “curar-se de todas
as feridas e enfermidades” (HAUCK, 1999, 140). Esta etapa é utilização da
libido dentro de sua forma plena, integrada com a impulsão da consciência para
os estados mais elevados do vir-a-ser.
"Aquamarine Muse" de Philip Rubinov Jacobson |
“Vale
ressaltar que o desejo é o agente da coagulatio. Esta operação é necessária não
para aqueles que já se movimentam adequadamente dentro de sua libido, mas para
aqueles outros com uma inconsistência em seu querer e o temor de colocar os pés
na vida, com dificuldade, inclusive de sorver os cálices que ela dispõe. O
desenvolvimento do ego nestes casos passa pelo lugar dessa consciência e
realização do desejo, a fim de que haja a movimentação da energia psíquica”
(MASAM, 2009, 22).
Neste
estágio, para Hamilton (1985), é manifestada, no alquimista a vontade de
encarnar na terra o estado de consciência iluminado na mente e no corpo. É como
se uma alma desejasse ser ‘encorpada’ sem o senso de separação do seu estado
puro original. Só quando a alma está encarnada na psique que pode ser
vivenciado o estado espiritual de completude. A psique pode agora expressar as
qualidades da alma e da natureza. A frase “assim na terra como no céu” ilustra
com perfeição este estado.
“Esta
união do espírito / alma com o corpo / mente representa o final e mais
importante casamento alquímico. Agora a anima torna-se a Mãe de Deus, ou a
Consorte de Deus, o objeto do amor místico. As figuras de animus correspondentes
são Os Iluminados - Cristo, Buda, Santos, etc. Isto significa que a consciência
de Deus, ao nascer no mundo da terra, percebe sua natureza divina conscientemente
– como um indivíduo transcendental e iluminado, num estado de unidade com o
todo cósmico. Isso, então, é a pedra filosofal que o alquimista procurava. É o
grande ponto culminante da Grande Obra” (HAMILTON, 1985, 8).
A natureza de Buddha (http://www.pinterest.com/pin/543880092472787206/) |
Ainda
para o autor, o equivalente terapêutico é fácil de ser percebido, uma vez que o
paciente transcendeu a natureza de seus dilemas e conflitos, e isso envolve uma
mudança de personalidade que vai acomodar e manter essa realização. O paciente
percebe que sua vida tem sido uma imposição que resultou numa série de
problemas, e agora inicia um processo de mudança para uma sustentação mais
pertinente a sua verdadeira natureza.
Hauck (1999) define que, ao atingir este estágio, o raio de transformação se volta a terra,
e é iniciado novamente o ciclo previamente proposto, indicando que os estágios
e transformações são processos eternos e constantes, assim como a lapidação do
Self, ou o processo de individuação proposto por Jung, fazendo com que o
alquimista volte à etapa de nigredo, e continue seu processo.
“Tudo
o que coagula está sujeito a transformar-se. Dai decorre que após a coagulatio,
os processos de putrefactio e mortificatio se realizam também, até porque, o
fim da encarnação é o desencarne, visto que está sujeito às injunções do tempo
e do espaço” (MASAN, 2009, 27).
Percebemos
que o processo alquímico é cíclico, e, assim como o processo de individuação,
exige um constante processo de atuação do indivíduo para com seus conteúdos, processo
este que Jung define acontecer por toda a vida.
A
mesma metáfora pode ser utilizada para definir o Ourobóros, um processo cíclico
e constante, que representa a integração de opostos e a volta para a unidade.
No capítulo seguinte iremos analisar a figura arquetípica do Ourobóros e
avaliar suas correspondências com o processo alquímico e o de individuação.
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