"O que está em cima é como o que está embaixo.
E o que está embaixo é como o que está em cima"
Princípio da Correspondência – O Caibalion
Hermes Trismegisto
A
alquimia é uma ciência antiga, cujos primórdios são incertos, porém encontrados
ao longo de muitos anos e civilizações, como uma arte. Os objetivos da realização
do trabalho alquímico são, entre outros, transformar metais densos em ouro, e
obter o elixir da vida, a pedra filosofal, que garante a vida eterna, através
da manipulação da prima matéria.
As
origens da Alquimia são associadas à figura emblemática de Hermes Trismegisto. Tal
entidade, é na verdade resultado de diversos sincretismos ao longo do tempo e,
à ela, foi atribuída a autoria dos textos alquímicos e herméticos mais
importantes da história, como a “Tábua de Esmeralda” e “Corpus Hermeticum” . Um
sincretismo religioso é o processo de absorção da cultura e influência
religiosa de um sistema, por outro. Por exemplo, o arquétipo da Deusa Adrodite,
é análogo à Vênus romana, cujo culto tem origens a adoração da Deusa fenícia
Astarte.
Os
representantes mais relevantes destes sincretismo são o Deus Egípcio Thoth e o
Deus grego Hermes (sendo o equivalente romano, Mercúrio).
“Na
realidade, Hermes Trismegisto resultou de um sincretismo com o Mercúrio latino
e com o deus egípcio Thoth, o escrivão no julgamento dos mortos no Paraíso de
Osíris, e patrono de todas as ciências na Grécia Antiga. [...] Hermes Trismegistos é o nome grego dado ao deus egípcio Thoth,
considerado o inventor da escrita e de todas as ciências a ela ligadas,
inclusive a medicina, a astronomia e a magia. Segundo o historiador Heródoto,
já no séc. V A.C. Thoth era identificado e assimilado a Hermes Trismegisto,
i.e., ao Três Vezes Poderoso Hermes“ (ROCHA, 2008, 12).
Na
mitologia, Thoth é um Deus ligado ao conhecimento, à escrita, ao estudo,
medicina, astrologia e todas as artes ocultas. Representa o Logos, a
organização e estruturação do conhecimento. Mestre e professor, aparece nas
lendas como a figura que auxilia os homens e os ensina sobre os conhecimentos
do universo.
Hieróglifo egípcio com o Deus Thoth |
Thot
era o senhor do conhecimento mágico e dos segredos divinos colocados à
disposição dos deuses e dos homens. Mais do que qualquer outro deus, Thot era o
“senhor do heka” (magia). A
magia egípcia pode ser entendida como uma força sem caráter moral determinado,
de origem divina, utilizada pelos homens, pelos deuses e pelos mortos para
manter a Ordem Criada (Maat) ou para provocar uma intervenção divina nesse
mundo ou no Mundo dos Mortos. Assim, entendemos a ligação entre Thot e o
conhecimento mágico contido nos textos.(FACURI, 2013, 30).
Para
António Fadista Rocha, Hermes Trismegisto é uma complexa divindade, a qual é
atribuída diversos atributos. Inicialmente era associado como um deus agrário,
protetor de pastores e rebanhos. Na mitologia grega, regia as estradas, e tinha
grande velocidade, pois utilizava sandálias com asas. Como conhecia os
caminhos, não se perdia nas trevas, e se transformou no mensageiro direto dos
deuses, com livre acesso aos níveis inferno, terra e paraíso, alegoricamente
associados a estados de consciência.
"Hermes/Mercúrio" afresco de Tiepolo |
Hermes
é o representante mor das ciências ocultas e esotéricas, pai da alquimia.
Aquele que sabe e transmite as sabedorias ocultas. Na literatura Medieval e do Renascimento existem várias referências à Hermes
Trismegisto e os escritos herméticos, que foram profundamente estudados por
alquimistas e rosa-cruzes.
“A
astúcia, a inventividade, o poder de tornar-se invisível e de viajar por toda a
parte, aliados ao caduceu com o qual conduzia as almas na luz e nas trevas, são
os atributos que exaltam a sabedoria de Hermes, principalmente no domínio das
ciências ocultas, que se tornarão, na época helenística, as principais
qualidades do deus“ (ROCHA, 2008, 07).
A
figura de Hermes Trismegisto, como podemos ver é bastante complexa, e como não
é nosso principal objetivo realizar um levantamento minucioso desta entidade, o
foco agora passa para o símbolo máximo associado a Hermes, o caduceu. O caduceu
é representado pela imagem de um bastão, com duas serpentes enroladas
ascendendo, cujo topo, tem um par de asas.
“Símbolo
dos mais antigos, sua imagem já se acha gravada, desde o ano 2.600 a.C., na
taça do rei Gudea de Lagash. São várias as formas e múltiplas as interpretações
do caduceu. Insígnia principal de Hermes, é um bastão em torno do qual se
enrolam, em sentidos inversos, duas serpentes”. Enrolando-se em torno do
caduceu, elas simbolizam
o equilíbrio das tendências contrárias em torno do eixo do mundo [...] A
serpente é um símbolo encontrado na Mitologia de todos os povos. Todas as
grandes ideias surgidas no início da Civilização foram representadas pela
serpente: o Sol, o Universo, Deus, a Eternidade.” (ROCHA, 2008, 13).
Taça suméria do Rei Gudea de Lagash (2.600 A.C.) |
Por
se tratar de um símbolo muito antigo e importante, a imagem do caduceu
apresenta uma série de conhecimentos embutidos e deve ser analisada com
cautela. Não cabe a este estudo esgotar a interpretação de seu simbolismo, mas
atentar-se àquele relevante as associações do método de ampliação citados no
inícios do trabalho.
“Também
se pode interpretar o caduceu como sendo o símbolo do falo ereto, com duas
serpentes acopladas. Esta interpretação do caduceu é uma das mais antigas
representações indo-europeias, sendo encontrado na Índia antiga e moderna,
associado a numerosos ritos, bem como na Grécia, onde se tornou a insígnia de
Hermes. Espiritualizado, esse falo de Hermes penetra no mundo desconhecido em
busca de uma mensagem espiritual de libertação e de cura.“ (ROCHA, 2008, 16).
E
mais ainda, segundo Julien (1993), as serpentes presentes do cetro, podem
representar o duplo espiral, ligados a evolução perpétua e progressiva, a
repetição infinita dos ciclos da vida.
"Hygeia" Detalhe de Giuseppe Moretti's de 1922 em Bronze |
“O
percurso podendo se efetuar nos dois sentidos (ascendentes, até as etapas
superiores, e descendente, até os estados inferiores), representa a dualidade
de forças, opondo-se e se equilibrando, os dois aspectos simbólicos da serpente.
Vê-se aqui também o equilíbrio das forças cósmicas realizado por Mercúrio a
partir do caos primordial [...] O caduceu representa o equilíbrio psicossomático
(psico = psiquê; soma = corpo), o das forças vitais e psíquicas e sua evolução
a expansão e o equilíbrio, objetivo da medicina. A espiral dupla é o símbolo
dos médicos e a serpente única dos farmacêuticos.” (JULIEN, 1993, 75-76)
Essa
noção cíclica e de equilíbrio é presente na percepção holística de C. Jung no
que diz respeito à compreensão do psiquismo e seus pares de opostos
complementares. Talvez a melhor frase que ilustra essa concepção é do próprio
Jung, que diz “que qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter as raízes
tão profundas capazes de tocar os infernos”.
"Ouroboros" de Brenda Erickson |
A
associação com a figura do Ourobóros é facilmente realizada, na própria imagem
acima vemos a serpente que morde a própria cauda contendo a árvore que atinge
ambas polaridades. o post segunte vamos nos aprofundar na arte da alquimia, suas etapas e os paralelos psicológicos com as mesmas.
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